Depois de ler estes posts, estive a pensar nestes assuntos, no meu próprio blog e no que ele tem mudado. No início não publicava fotos, mas pensei "porquê?" Que é que a minha vida tem de tão especial que tem de ser genericamente vedada? Fui ler, pesquisar, e o que descobri é que "os agressores mais frequentes são amigos ou conhecidos, mais frequentemente o pai e o padrasto." Infelizmente esta é a realidade. Não quero viver numa redoma, nem quero que as minhas filhas cresçam hiper protegidas. Aprendi cedo que a melhor prevenção é a informação, por isso falo abertamente com elas de muita coisa, não proibio programas televisivos, vou explicando, e pretendo explicar cada vez mais quais os riscos, os limites e os cuidados que têm de ter. Mas nunca estarão imunes ao risco. Nunca. E não é não pôr umas fotos aqui que as protege.
Também me sinto discriminada no parque quando chego, sento-me, e digo à minha pequena de 3 anos para ir brincar. E ela vai, e fala com os outros meninos, e de vez em quando cai, e depois brinca outra vez...enquanto os outros pais e avós me olham de soslaio, mesmo a dizer "que mãe negligente que deixa a menina desprotegida". Não, não deixo. Estou sempre a ver, pelo canto do olho, se se magoa e, principalmente se maltrata (sem intenção) outros meninos, que é um risco bem maior nesta idade. Talvez por ser segunda filha e por esta sempre ter sido a política do meu marido que as deixa, desde pequenas, brincar e explorar os seus limites, aprendi a ser imune aos olhares.
Não quero viver numa redoma, de janelas fechadas e de filhas trancadas. Vivo num prédio com um jardim enorme, onde quase só as minhas filhas brincam porque ninguém deixa os meninos irem lá para fora brincar sozinhos. Vivo num RC, sempre com as persianas e janelas abertas, que é caso único. Todos os outros estão sempre fechados. Porquê? Deixamos o excesso de privacidade e o medo do papão fechar os nossos mundos. Recuso-me a viver fechada e escondida.
E tudo isto me lembra o meu trabalho. Tenho uma loja. Vendo cadeiras-auto para as crianças e nem imaginam a quantidade de vezes que ouço o "vamos comprar uma boa para as viagens grandes e uma fracota para o dia-a-dia." E lá vou explicando que, contrariamente ao que a maioria das pessoas pensa, a maior parte dos acidentes com crianças ocorre em distâncias curtas e perto de casa. As pessoas criam imagens dos acidentes (em autoestradas), dos pedófilos, (atrás dos computadores), dos raptos...e tomam as suas decisões com base nessas imagens.
Repito, não quero expôr demais as minhas filhas e a minha vida, mas recuso-me a viver num mundo de medo, de falácias e de janelas fechadas. E quanto ao blog vou sempre respeitar isto, mas sem encobrimentos inúteis.
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