terça-feira, 20 de agosto de 2013

Pedrogão

É mais do que uma casa de férias. Tanto que para o patriarca não é uma casa de férias. É o seu lar, um dos pelo menos. É uma casa com carisma. Com quadros lindos e quadrinhos, músicos de loiça, bibelots, passepartouts, livros, almofadas e mais almofadas. Todos os cantos fazem lembrar a matriarca. Uma daquelas pessoas especiais, que marca e deixa saudades, sempre elegante, sempre generosa com as palavras, agregadora da família. Chamava-me de minha filha, apresentava-me como sua neta e tenho-lhe carinho como a uma avó. Toda a casa lembra a bisa. Mas continuando, é uma casa com carisma, com uma varanda linda onde se vê um mar enorme, emoldurada a lírios da praia vermelhos que a bisa tanto gostava e que, por isso, ninguém deixa as crianças estragar. Uma varanda que é o cenário da foto das férias, sempre, há muitos anos. Tem uma sala em três níveis, com muitos recantos distintos, com cadeira de baloiço e pufs  que são pistas de aterragem. Uma cozinha com todos os cantos preenchidos com tralha a mais. É a casa onde a minha filha mais velha passou o seu primeiro Natal e o avô e o tio fizeram 400Km para irem almoçar connosco. Foi o último lá. Já não cabemos. Agora os netos, que já têm muitos bisnetos, têm que ir por turnos.
A minha história pessoal com a casa é engraçada. Já para lá vou há muitos anos. Primeiro com as cartas que trocava com a minha amiga e ainda guardamos. Depois a aventura de irmos para lá passarmos uns dias, sozinhas, ainda sem carta e sem carro. Para lá chegarmos apanhávamos 3 autocarros diferentes. Íamos ao casino e à stress less, apanhávamos sol no pátio e éramos crescidas. Depois, já com carro, era a primeira paragem da nossa road trip de verão. A seguir, surpreendentemente ou não, vieram os fins de semana com o namorado. Tão bom, tão romântico. Só nós e as duas cadelas. A seguir, grávida, tão feliz. Depois o tal natal e todos os verões desde então, primeiro só com uma filha, depois com duas e sempre com as duas cadelas. A semana com os avós, a tia, o bisa e os convidados que vão chegando e partindo. Só depois da foto da praxe, claro. As cadelas é que já não aproveitam tanto porque as patas já não deixam curtir a areia como antes.
Gosto muito desta casa. São muitos anos, muitas memórias. Demoro a apropriar-me das coisas, mas finalmente, depois destes anos todos, sinto esta casa um bocadinho minha.




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